quarta-feira, 29 de abril de 2020

- Não há sentimentos errados... -

Talvez muitas pessoas me vão julgar louca mas eu tenho que assumir... Não estou a gostar especialmente de estar grávida. Para mim que nunca sofri propriamente com a TPM ter as hormonas completamente descontroladas e não conseguir gerir as minhas emoções foi um verdadeiro sufoco. Tive desde o início um amor avassalador pelo pequeno feijão mas nos primeiros meses os desconfortos eram tantos que eu chorava de cansaço e de pura tristeza. Mas chorava sozinha, sempre no banho. Sentia-me verdadeiramente mal por não me sentir radiante e cheia de vontade de gritar ao mundo a minha felicidade. Lia os relatos de outras mulheres hiper mega felizes e sentia-me uma espécie à parte. Na minha cabeça talvez eu já fosse uma má mãe, incapaz de ignorar os desconfortos da gravidez. Cheguei a pensar que era egoísta por estar a pôr o meu bem-estar em primeiro lugar e que se calhar deveria aceitar todas aquelas dores sem me queixar. 

Até ao dia em que falei com mulheres que passaram pelo mesmo que eu e aí percebi que não era um bicho raro. Percebi que são muitas as mulheres que se sentem assim mas que também guardam para si, com medo de serem julgadas. Mas a verdade é que não temos porque ser julgadas... Cada pessoa vive as várias fases da vida à sua maneira e todas elas são válidas. E a verdade é que eu não me sinto nas nuvens com esta gravidez. Talvez pelos medos que sinto - principalmente por culpa deste maldito vírus que dominou o mundo - ou porque não estou a conseguir viver a gravidez da forma como sempre a imaginei. Penso muitas vezes que romantizei demasiado os meus pensamentos antes de engravidar e que isso agora me prejudica. 

Neste momento já estou a meio do segundo trimestre e os maiores desconfortos já passaram, o que me ajudou a encarar a gravidez com outros olhos. Mas ainda há muitas dúvidas e sinto-me muitas vezes sozinha, mesmo estando acompanhada. O pai do feijão por muito presente que seja nunca conseguirá sentir aquilo que sinto. Nunca conseguirá perceber verdadeiramente os meus desconfortos, a falta de posição para dormir que já me começou a atacar, nunca conseguirá adivinhar o que me passa pela cabeça. Mas, no fundo, está tudo bem. Já me habituei à ideia de que vou viver esta gravidez à minha maneira e que será a minha experiência: pessoal e intransmissível. Já percebi que não sou má mãe por não gostar de estar desconfortável. Simplesmente não deixei de ser mulher e parte de mim nunca irá abdicar de ser eu mesma independente do bebé que cresce dentro de mim. Continuarei a protegê-lo com todas as minhas forças e este amor continua a crescer de dia para dia. 

Não sou menos do que todas as mulheres que dizem que a gravidez foi a fase mais linda das suas vidas. Somos todas diferentes mas há algo que nos une e que é, sem dúvida, a coisa mais importante que devemos retirar desta experiência: o amor que temos aos nossos filhos

5 comentários:

  1. Sinto que se romantizou tanto o "estar grávida" que parece mesmo um erro, punível por ler, não gostar assim tanto desta fase. E é tão importante que não se criem essas pressões parvas [não tenho outro termo], porque já basta todas as mudanças que as mulheres têm que passar.
    Além de que não é o gostar ou não de estar grávida que vai fazer com que se seja melhor ou pior mãe. O amor, como bem referes, é que fará a diferença

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  2. Isso recorda-me o relato de algumas mães em que, nos pós-parto, as pessoas aparecem de repente lá em casa, não respeitando os horários de descanso da mãe e do bebé. Ainda não tenho filhos, mas acredito que ninguém tem o direito de julgar ninguém - cada gravidez é única. O coronavírus não veio facilitar a vida a ninguém, mas acredito que possa fortalecer muitas ligações. Um dia mais tarde, podes sempre contar ao Santiago que, quando estavas grávida dele, o mundo cá fora enfrentava uma pandemia.

    Um grande beijinho, cheio de fé em dias melhores <3

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  3. Nunca estive grávido (lol), mas imagino o desconforto de carregar uma bilha de gás durante 9 meses e não me atrevo a criticar. Nem acho que haja criticas a fazer. Cada um sabe de si. O importante é que corra tudo bem e no fim sobre muito amor e muito carinho para quando esse ser tiver que enfrentar o mundo. :)

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  4. "Cada pessoa vive as várias fases da vida à sua maneira e todas elas são válidas" e é isso mesmo! Espero que as coisas melhorem e daqui a uns tempos isso já passou tudo e vais ter o teu feijãozinho nos braços :)

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  5. Ainda que não tenha passado por esta experiência acredito que cada gravidez é uma gravidez, o corpo difere de mulher para mulher, os sintomas também, por isso, é perfeitamente normal que para algumas seja mais fácil e para outras mais difícil. Estás no teu direito de não gostar de estar grávida e isso em nada diminui o amor que sentes pelo teu bebé <3

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