sábado, 9 de maio de 2020

- Não somos más mães. Somos humanas. -

Mesmo antes de engravidar sempre tive interesse em ler testemunhos de mães e de mulheres grávidas em blogues ou até em grupos de facebook. Percebi rapidamente que havia uma característica comum a praticamente todas elas... Em algum momento da sua vida tinham duvidado de si mesmas e das suas capacidades enquanto mães. Muitas delas debatiam-se mesmo com o sentimento de serem más mães. Se antes isso me fazia confusão e tentava apoiar as mulheres mais próximas de mim, dizendo-lhes que não deviam duvidar de si e das suas decisões, eis que acabei a sofrer do mesmo síndrome agudo que nos faz duvidar até da nossa sombra. E a verdade é que não há nada que nos possam dizer para que o nosso coração se acalme. Pomos em causa todos os nossos passos e damos por nós a pensar "fiz mesmo o melhor?". Podem achar que este género de sentimentos surgem só após o nascimento do bebé mas acreditem... Durante a gravidez o receio de fazer algo que o prejudique o bebé também é enorme. E apoderou-se de mim logo nas primeiras semanas.

Sou uma pessoa que detesta tomar medicação e mesmo sofrendo com alergias recuso-me a tomar o anti-histamínico e procuro recuperar-me da forma mais natural possível. Quando me deparei com náuseas que me impediam de fazer a minha vida normal tentei resolvê-las de uma forma tranquila. Comia várias vezes ao dia pequenas quantidades, não estava mais do que duas horas sem comer, comia uma bolacha antes sequer de me levantar da cama. Tentei todos os truques que outras mulheres me diziam. Nada resultava e mal me aguentava em pé grande parte do tempo. Até que fui à consulta com a obstetra e ela me receitou medicação específica para os enjoos na gravidez. Comprei a caixa e deixei-a na mesa de cabeceira: «Vou tentar mais uns dias sem comprimidos», pensei. Até que não aguentei mais. Estava constantemente em baixo e não conseguia ter rendimento no trabalho. Até o simples acto de cantar a música do bom dia era um suplício. 

Desisti de lutar contra o óbvio e tomei a medicação, contra tudo aquilo em que acredito. Ao início senti-me tranquila porque finalmente conseguia começar a ter uma vida mais normal e podia respirar de alívio. Apesar de ainda sentir algum desconforto tornei-me novamente mais funcional e já não acabava os dias a chorar. Até que falei com uma colega minha e senti-me instantaneamente uma má mãe. Contava-me ela que também tinha sofrido com enjoos mas que nunca tinha tomado medicação porque era contra e preferiu aguentar-se até eles atenuarem. Ela não o disse com o intuito de me criticar - estávamos apenas a partilhar experiências - mas senti-me mal comigo mesma. Que raio de mãe era eu que não aguentava o desconforto? Será que aquela medicação iria de alguma forma prejudicar o meu bebé? Dominada por esses sentimentos reduzi a medicação com o intuito de deixá-la e depressa regressei ao péssimo estado em que estava antes. 

Demorei alguns dias a aceitar que a minha realidade era diferente daquela que ela tinha vivido. Demorei alguns dias a aceitar que tomar medicação não era sinónimo de ser má mãe. Muito pelo contrário. Como conseguiria estar bem e aproveitar a gravidez se estava sempre caída pelos cantos? Se estava sempre em sofrimento? Era impossível isso ser saudável para o bebé. Respirei fundo e fiz o melhor por mim naquele momento. E ainda bem que o fiz! Hoje em dia até já nem preciso dessa medicação contra a qual tanto lutei mas ainda tenho muitas dúvidas e ainda me questiono se tomo sempre as melhores decisões. No entanto agora já percebo que por muitos erros que cometa isso não significa que seja má mãe ou que vá ser má mãe. Significa que sou humana. E que vamos sempre a tempo de aprender como dar a volta ao pior dos momentos. Que nunca duvidemos de nós!

7 comentários:

  1. Muito obrigada pela visita e pelo comentário :)
    Adorei o teu testemunho! Às vezes pergunto-me como será o meu eu Mãe, o futuro e é assustador.

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  2. As dúvidas, feliz ou infelizmente, farão sempre parte do processo. O importante é haver esse desconstrução e perceber que se está a fazer o melhor possível

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  3. A vida é feita de decisões e temos mesmo que as fazer, às vezes correm bem, outras mal. Mas quando correr mal (porque também acontece e é importante lembrar isso) não acredito que fosse com o intuito de o fazer propositadamente. E sabes porquê? Porque não acredito que vás alguma vez ser má mãe! Acho é que esse pequenote vai ser um sortudo!!!
    Quanto à medicação, eu compreendo. Também só tomo quando estou mesmo à rasca. E, essa em específico, se é para os enjoos da gravidez deve estar preparada para não fazer mal aos bebés, penso eu... Tenta ter uma segunda opinião de médicos e pessoas especializadas

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  4. r: Vai na volta essa limpeza de praia que viste na Ericeira era do projeto Ocean Hope que falei, eles são mesmo da Ericeira :)

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  5. Eu não me sinto nada má mãe, sei que dou o meu melhor... mas durante muito tempo recriminei-me por ser uma mãe mais fria!

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  6. Tal como não devemos tomar um medicamento porque fez bem a um amigo, também não devemos deixar de tomar outro receitado pelo médico, só porque o amigo ou amiga tem opinião diferente.
    "Lutar" contra a medicação não é mau, pois é sabido que a maior parte dos medicamentos tem muitas contraindicações. Temos que encontrar um ponto de equilíbrio e se os benefícios forem superiores aos malefícios, optemos pelo que nos faz sentir melhor.
    Não acho que alguém seja melhor ou pior mãe por tomar, ou não, a medicação que a faz sentir melhor. Muito menos antes de ser, efetivamente, mãe.
    Não me parece que o teu "Feijão" se vá sentir menos amado, só porque a mãe tomou medicação para se manter de pé.
    Há um provérbio do tempo dos meus avós, que diz:
    Todos os conselhos tomarás, mas o teu não deixarás.
    Ouvir diferentes opiniões, muitas vezes serve apenas para chegarmos à conclusão de que nós é que estamos certos.

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  7. Acredito que sejam pensamentos que de facto atrapalham os dias de muitas mulheres, mas é como tu dizes, não és má mãe, és humana e tenho a certeza que farás sempre o melhor por ti e pelo bebé que carregas :)

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